Não sei onde está e como recebe esta carta.
Mas sei que as almas atormentadas sempre se encontram
e que a coruja é esperta o bastante para rastrear os
caminhos que a angústia te fez percorrer.
Tem tempo que não escrevo, mas hoje tenho algo a dizer.
Primeiro, quero te contar uma coisa feliz:
Adotei um cachorro e dei seu nome para ele.
Como cachorro que é, você sabe que isso é
uma baita homenagem, vai.
E o nome foi um presságio porque o vou te contar,
ô cachorro doido. Cheio de vida, de raiva, de
felicidade, de ansiedade e muita personalidade.
Não sei se esse nome ajudou nisso ou se eu
escolhi esse cachorro porque eu já tinha o nome.
Seja como for, combinou.
A outra coisa é mais um conselho. É, um
conselho. Mas antes, um pouco de contexto.
Um dia você disse que ninguém é 100% bom
ou ruim. Que existe luz e sombra dentro de
todos nós. E você não vem de uma família
digamos… Iluminada. Além disso, em seu
passado você nem sempre teve as
melhores atitudes. E seu amigos tão no
mesmo bolo, por assim dizer.
Vocês fizeram muitas coisas que
logo que eu fiquei sabendo fiquei chocada.
E até me perguntei se eu ainda poderia gostar
de você depois disso.
Mas eu conhecia você. Essa pessoa altruísta,
leal, engraçada, aventureira e super inteligente.
Então eu ficava me perguntando se era justo
te julgar por atitudes do passado. E hoje em
dia, ainda penso, é justo julgar alguém por
só um lado, mesmo que no presente?
Eu tive uns probleminhas com uma pessoa
que você conhece. Uma tal de Joanne.
Ela que me apresentou para você na verdade.
E me apresentou muitos dos meus amigos
também. Tanto os bruxos quanto a muitos
outros trouxas simpatizantes como eu.
Pois é.
Quase todos os dias penso sobre isso.
Ando sem falar com ela por esses dias,
mesmo que eu sinta uma certa falta.
Mas eu acho que você me entende.
Lembra quando você e o Remo ficaram
desconfiando um do outro? No fim foi
um mal entendido e também muito
orgulho, mas na hora fazia sentido para
você. Então acho que você consegue me
entender. Mas a pergunta que eu te faço é:
Como perdoar um amigo por ele não
pensar como você? E mais importante:
Como se perdoar por ter tido falas ou
atitudes que você condena?
Você se perdoou Sirius?
Porque eu te garanto, você é uma pessoa
incrível que me ensinou muita coisa. Mas
nos sabemos como esse mundo funciona.
Cem atos bons são apagados por um ato
ruim. E bom, você mais do que ninguém
sabe o que o julgamento pode fazer com
alguém. Mesmo quem realmente agiu
errado, mesmo quem cometeu um crime
, eu não acredito que não mereça
o beijo do dementador.
O real ou o metafórico. To viajando, ne?
Mas acho que o metafórico é quando toda
a sociedades crucifica alguém e não lhe
oferece a chance de redenção e nem outro
ponto de vista. Quando a pessoa vira réu
acima de ser humano. Eu acho que existem
tantas atrocidades nesse mundo, que fizeram
com que as punições fossem necessárias
. Mas… você não concorda que as pessoas
estão meio viciadas nelas? Quase como
se houvesse um sadismo, uma satisfação
em ver as pessoas serem julgadas.
Eu acho que isso faz parecer que somos
menos imperfeitos, sabe? Quando pessoas
ditas perfeitas mostram seus monstros no a
rmário ou quando desenterram uma múmia
já a muito decomposta. De minha parte,
infelizmente ainda acredito em justiça.
E culpa é um pouco de vocês, membros
da ordem da fênix. Mas eu também sou
culpada. De ser uma otimista incurável.
Vai, pode me zoar! Sei que o otimismo
não e bem a sua praia. Mas você tem
uma esperança bem no fundo desses
seus olhos vibrantes.
E mais uma vez te pergunto:
Você se perdoou? Se não, ainda é tempo.
A aproveita e pensa um pouquinho sobre
o Snape. Ele não é a melhor pessoa do
mundo mas tem seus pontos fortes, vai.
Sei que a coruja ultrapassou e espaço
e tempo para fazer essa carta chegar
até você, então tenta pensar direitinho
em tudo que eu disse.
E eu quero resposta, viu!
A propósito: Parabéns! E manda um abraço para o Bicuço.
Bjuxxx
Da sua eterna amiga
Juane