Eu não minto para a Vânia

Digamos que eu fiquei com duas pessoas depois de você. O primeiro nem sei como. O segundo  nem lembro o nome.
Estou aguardando a chegada do terceiro. Esse terceiro eu sei o nome. E sei como. Conheci ele no pré carnaval de 2000 e antigamente. Ele tinha 17 e eu 27.
Muitas vezes me peguei tentando entender porque acabo com caras mais novos que não tem as mesmas referências que eu, me perguntam se Coringa faz parte dos vilões  dos Vingadores e que acham que todo mundo que trabalha com cinema é "câmera man". Enfim...
Quase todas as vezes que me pergunto isso é madrugada depois que pego esse tal terceiro. 
Mas ele me ligou no dia que você disse não para mim. Falou de superar a rotina, de saudade e de cama. Confesso, ele fez um certo drama. Ariano é foda.
Mas entre tentar entender o meu surto e porque você não não surtou de volta, eu só disse que sim. Sim, pode vir.  Adiei até você ir embora.   Enquanto isso mentia para todos a minha volta.
 Disse que você não é normal. Que eu vejo um problemático a distancia e pulo em cima. Que você não presta. Que eu não aguentaria uma semana se você morasse aqui. Que você me lembra meu ex. Que leonino com leonino não tem vez. Acho que eu tinha razão em tudo.Mas talvez, só talvez...
Aí eu chego no bar. Espero o terceiro. We are the word. We are the children. Diz a jokebox, aos berros. O terceiro ta atrasado. He is the children. Eu penso, mirando o "13" na minha mesa.
A Vânia chega trazendo a boêmia, digo Bohemia.  E pergunta por você. Eu digo que estou esperando outro chegar ela faz uma cara feia. Ia ficar só nisso mesmo.
O terceiro chega. Senta. Diz que não gosta de Bohemia e prefere Brahma. Vânia fica ofendida. A Bohemia é puro malt e está em promoção. Ela sai e eu converso com o terceiro. Papo trivial. Bem bom nem ruim. Aquele pacato "legal".
Quando o terceiro vai no banheiro, Vânia volta limpando minha mesa.
Ela diz: sabe, ainda prefiro o outro.
Poderia ficar nisso mesmo.
Mas completo: É, eu também. Eu ainda penso. Queria que tivesse aqui, sabe? Que de repente se apaixonasse - por Vitória.
Eu não precisava dizer isso. Virei meu copo, não consigo. Eu não minto para a Vânia.
Deitada no meu quarto encarando minha cortina vermelha eu  penso novamente no terceiro. No terceiro parágrafo. Minhas escolhas afetivas são  todas zoadas. Deve ser culpa no meu avô. Ou do momento político ou minha mesmo.
Mas na mesma medida que eu encontro um problemático a distância eu encontro intensidade a distância. E talvez seja só isso que eu queira. E talvez seja isso que esse terceiro não consegue me dar. E talvez seja por isso que eu não consiga mentir para a Vânia.

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